Bullying, cancelamento ou zoação? O retrato desta atual polêmica (Publicado em GPS Lifetime – 19/07/2022)

Pesquisa inédita revela grave problema de saúde pública. Vítimas silenciam, mas tendem à depressão, baixa autoestima e tentativas de suicídio

O fruto da pesquisa FEBRABAN-IPESPE Bullying e Cancelamento: Impacto na Vida dos Brasileiros é apresentado ao País e traz dados relevantes que merecem atenção. O estudo mostra o alcance dessas temáticas: 78% dos entrevistados sabem o que é bullying30% o que é cultura do cancelamento e 31% tomaram conhecimento da lei que torna crime o stalking, ou seja, perseguição. A pesquisa foi realizada entre os dias 21 de maio e 2 de junho, com três mil pessoas nas cinco regiões do País.

A maior parte dos brasileiros acredita que os casos de bullying (ameaça, humilhação ou intimidação) e os de cancelamento nas mídias sociais cresceram muito no Brasil e avaliam que esses fenômenos sociais não têm sido tratados de forma adequada. A maioria ressalta a existência do silêncio das vítimas, que não denunciariam os agressores por falta de apoio, medo de retaliação e vergonha.

Além de mais conhecidoo bullying é também o comportamento mais preocupante. Entre pais, 81% expressam o receio de que seus filhos sofram com tal ato. E, para 75% dos entrevistados, não pode ser considerada uma brincadeira qualquer atitude que discrimina, humilha ou ridiculariza alguém.

Para a maioria, esse tipo de conduta leva ao desenvolvimento de problemas psicológicos nas vítimas. A raça e a orientação sexual se destacam entre as motivações para esse tipo de assédio moral e o ambiente escolar é citado como principal local de ocorrência.

O cancelamento, por sua vez, causa mais polêmica. Embora a maioria acredite, total ou parcialmente, que se trata de uma forma de chamar as pessoas à responsabilidade sobre como se comportam nas redes sociais, é alto o percentual dos que alegam ser uma forma de censura, perseguição e intolerância.

No entendimento de grande parte dos entrevistados, o combate ao bullying e cyberbullying passa por ações preventivas relacionadas a campanhas de conscientização, além do apoio psicológico e judicial oferecido às vítimas.

Já com relação à coibição da cultura do cancelamento, a maioria crê que deve ser feita através de canais de denúncia nas redes sociais, enquanto 43% apostam no trabalho de associações e serviços especializados.

“O bullying e o cyberbullying tornaram-se um grave problema de saúde pública. Depressão, baixa autoestima e tentativas de suicídio são alguns exemplos de consequências dessas condutas, evidenciando a necessidade de ampliar o esclarecimento e a discussão sobre o tema”, aponta o sociólogo e cientista político Antonio Lavareda, presidente do Conselho Científico do IPESPE.

Para ele, esse conhecimento se torna especialmente importante em uma sociedade contemporânea, “mais intolerante e onde a privacidade quase inexiste, mas que, ao mesmo tempo, demanda por mais empatia, ética, responsabilidade e transparência nas relações pessoais e corporativas”.

A íntegra do 11º levantamento OBSERVATÓRIO FEBRABAN, pesquisa FEBRABAN-IPESPE pode ser acessada neste link. O recorte regional poderá ser lido neste link.


Veja os principais resultados do levantamento:
 

Ambientes, motivações e consequências

Dentre os fatores alvo da prática do bullying comparece em primeira posição a cor, etnia (32%), seguida da orientação sexual (24%). Abaixo de 20% mas ainda com dois dígitos, há menções também ao aspecto físico ou padrões de beleza (15%). 

Quase sete em cada dez entrevistados (66%) acreditam que a principal consequência do bullying, na internet ou fora dela, para a vítima e a sociedade como um todo é o desenvolvimento de problemas psicológicos, como insegurança, ansiedade, distúrbio alimentar, depressão, suicídio.

Quanto às motivações para esse comportamento impróprio, três aspectos despontam praticamente empatados:

  • 25% – Busca de popularidade 
  • 22% – Afirmação de poder 
  • 18% – Brincadeira inconsequente 

Na avaliação de algumas afirmações relacionadas ao tema do bullying85% concordam que “se uma brincadeira discrimina, humilha ou ridiculariza alguém, não deve mais ser encarada como brincadeira”. Outros 61% validam a frase que diz que “antigamente não existia isso de bullying e que hoje as pessoas se ofendem muito facilmente”.
 

Brincadeira e zoação próprias da adolescência

  • 57% dos entrevistados dizem concordar com essa afirmação, especialmente os mais velhos com 45-59 anos (64%) e com 60 anos e mais (61%).
  • 41% discordam, principalmente os mais jovens (51%), novamente o único perfil onde a discordância é predominante.

 As situações de bullying mais recorrentes

  • 61% – Xingamentos, provocações e humilhações 
  • 44% – Boatos negativos 
  • 33% – Exclusão da pessoa de grupos 
  • 27% – Ameaças, intimidações, chantagens 
  • 26% – Perseguições 
  • 23% – Difamação e boatos nas redes sociais
     

As formas de combate 

Nos casos em que há denúncias, as vítimas costumam recorrer basicamente a três fontes: familiares e amigos (juntos somam 32%), autoridade policial (Polícia Civil e Delegacia de Crimes Digitais juntas somam 28%) e às próprias redes sociais. Para 40% dos entrevistados, conscientização e apoio psicológico e judicial são mais eficientes do que iniciativas punitivas. E a grande maioria dos respondentes (67%) não tomou conhecimento da sanção da Lei do Crime de Stalking.
 

A lei

A nova lei é oriunda do PL 1.369/2019, de autoria da senadora Leila Barros (PSB-DF), foi sancionada ano passado. Ela tipifica o crime de perseguição, prática também conhecida como stalking  (Lei 14.132, de 2021). A norma altera o Código Penal (Decreto-Lei 3.914, de 1941) e prevê pena de reclusão de seis meses a dois anos e multa para esse tipo de conduta. O crime de stalking é definido como perseguição reiterada, por qualquer meio que ameaça a integridade física e psicológica de alguém, interferindo na liberdade e na privacidade da vítima.

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